Santidade é amor: amor a Deus
acima de tudo e amor ao próximo em Deus. Tal amor, exige em última análise,
completo esquecimento de si mesmo.
O monge é tradicionalmente
alguém que deixa o convívio social, foge da companhia dos outros e procura
purificar a alma vivendo na solidão de um lugar afastado. Mas nem por isso o
monge passa os dias a vegetar, vítima de uma piedosa ilusão.
Para o monge, deixar o “mundo”
é em primeiro lugar, deixar-se a si mesmo e começar a viver para os outros.
Aquele que vive “no mundo, mas não é do mundo”, é aquele que, em plena vida,
com todas as limitações da condição humana, se esquece de si a fim de viver
para a comunidade dos irmãos. O mosteiro de Serra Clara, com seu afastamento
geográfico e rígida clausura, tinha por alvo criar essa atmosfera favorável ao
esquecimento próprio.
Buscar verdadeiramente a
Deus...
Para NPSão Bento procurar a
Deus significa viver em Cristo, encontrar o Pai no Filho, Seu Verbo Encarnado,
participando pela fé e pelo dom de si mesmo da obediência, da pobreza e da
caridade de Cristo.
A vida monástica não está
apenas dedicada ao conhecimento de Cristo ou à contemplação de Cristo ou à imitação
de Cristo. O monge procura tornar-se Cristo pela participação na paixão de
Cristo.
A vida no mosteiro, diz Cassiano, é vivida sob o sacramento da cruz (sub crucis sacramento).
Muitos pormenores da austera vida do monge ou monja podem ser abrandados pelos abades ou abadessas. Pode haver abrandamento quanto à oração cotidiana, ao trabalho manual, ao jejum, ao silêncio; em uma coisa, porém, não poderá haver suavização: na obrigação fundamental do monge de ser “obediente até à morte”. Isso quer dizer que o monge deve entregar a vontade teimosa de viver a vida como indivíduo que se busca a si mesmo e se faz valer. Renunciar ao prazer das mais caras ilusões que se possui a respeito de si próprio. O QUE A VIDA MONÁSTICA PEDE É A COMPLETA E VERDADEIRA RENÚNCIA DE SI MESMO.
Viver “sob o sacramento da
cruz”(Cassiano), é participar da vida de Cristo ressuscitado. Assim é quando
morrem as nossas ilusões , dando lugar à realidade. Quando nosso falso “eu”
desaparece, quando a treva de nossa auto-idolatria se dissipa então realizam-se
no monge as palavras do Apóstolo: “Levanta, tu que dormes e Cristo te iluminará”(Ef
5,14).
A luz de Deus que brilha na
alma humilde, vazia de si, é o que os antigos Padres chamavam “puritas cordis”,
pureza de coração. Cassiano ensinava que o escopo da vida monástica consistia
em levar o monge a essa pureza interior, razão de ser de todas as observâncias
monásticas.