31.10.23

"deserto"

 


O “deserto” no qual o(a)monge/monja vivem é um lugar de combate, de radicalização da fé. Esse combate se trava não entre o corpo e a alma mas entre a busca da unidade em Deus e a tendência à dispersão, como demonstra magistralmente Santa Teresinha em seus manuscritos.

evolução do monaquismo cristão

 


A história da vida monástica pode ser apresentada na originalidade das suas principais formas, das suas origens até o século XIII:

1.    A vida numa solidão mais ou menos completa, do modo como a viveram os monges do Baixo Egito, nos séculos IV e V.

2.    A vida de renúncia, inteiramente separada do mundo, mas vivida em comum, tal como a instituiu São Pacômio no Egito.

3.    A vida de renúncia entendida de modo a não excluir um certo serviço à comunidade cristã, vivida nas periferias das cidades, como a procuraram realizar São Basílio e os monges bizantinos.

4.    A vida levada em comunidade, mas aberta ao eremitismo, como era vivida nos mosteiros siro-palestinenses.

5.    A vida vivida segundo a “Carta de Ouro”, a luz que vindo do Oriente iluminou todo o monaquismo.

6.    O desenvolvimento da espiritualidade monástica segundo a Regra de São Bento do século V ao século XIII.

30.10.23

 A Igreja Católica assumiu como missão a tarefa de escutar e principalmente ouvir positivamente e valorizar a realidade e as culturas, principalmente a sabedoria religiosa.  Desde que, há dois anos, esse sínodo começou a ser preparado, os bispos e missionários/as que conduziram a consulta prévia às comunidades descobriram e afirmaram que as culturas populares representam uma expressão da relação harmoniosa entre o Deus criador, os seres humanos e a natureza.



Lectio divina



Desde a Antiguidade sempre se buscou uma maneira sistemática de abordar os textos sagrados. O grande teólogo e analista da Bíblia, Orígenes, foi um dos mais famosos nessa tarefa. Na Era Patrística, chegou-se a estabelecer um procedimento de leitura bastante sistemático, que estabelecia quatro sentidos das Escrituras: começava-se pela pesquisa do “sentido literal ou histórico” do texto, ou seja, o que diz imediatamente o “corpo” do texto que está diante dos olhos do leitor; daí se passava ao “sentido espiritual”, ou seja, o que de espírito se comunica naquele “corpo”. Se as Escrituras são obra divinamente “inspirada”, deve haver um “sentido mais pleno” que é realmente o “recado” intencionado pelo Espírito. Isso se buscava em três níveis: o “sentido alegórico” (nele também se inclui o que se chama de “sentido tipológico”, quando uma figura ou acontecimento do AT antecipa personagens e realidades que se dão no NT), ou seja, o que está em outro (“állos”) plano, para além da pura letra e, desse modo, nos fala acerca de Cristo e dos mistérios de Deus, revelados na história e em Sua Igreja; em seguida, de que modo o texto nos pode orientar na prática da vida de acordo com o que aprendemos de Jesus, a saber, como orientar nosso comportamento à semelhança de nosso Irmão maior e de quem O seguiu, é o sentido “tropológico” (o “caminho” prático, ético); finalmente, o que o texto pode nos dizer acerca de nosso destino, do futuro, de nossa plenitude, é osentido “anagógico” ou “escatológico” (o que está adiante e nos eleva).

Na Idade Média, particularmente a partir do ambiente monástico, se formulou a chamada “Lectio Divina”, ou leitura que nos introduz nos mistérios divinos. Começa-se pela “Lectio”, pela leitura atenta da letra do texto, para que nos possa penetrar. O passo seguinte é a “Meditatio”, a ruminação ou penetração do texto, momento em que se busca compreender a mensagem que nos é endereçada, é o passo em que cabe aquilo que chamamos de “exegese” ou compreensão do texto, mediante elementos que o aproximem de nós. Penetrar o texto, porém, nos provoca a sensação de estar diante de algo que nos ultrapassa, daí por que é como se interrompêssemos a leitura e tivéssemos de invocar o auxílio divino que nos abra para compreender de acordo com o Espírito, é o momento da “Oratio”, a oração que nos chama a escutar o Espírito. Finalmente, o texto nos conduz à “Contemplatio”, contemplação das obras de Deus narradas pelo texto, o que nos abre os olhos para perceber as obras que Deus já realizou na antiga História da Salvação e continua a realizar em nossa vida e em Seu mundo, por Ele criado; nosso mundo está em continuidade com o mundo antigo que nos é trazido pelo texto, e que é, em última análise, a Criação de Deus na qual estamos envolvidos/as como produto (obra particular) e, ao mesmo tempo, “macho e fêmea, imagem plural de Deus”, como cuidadores e cuidadoras de todo o conjunto (cf. Gn 1, 26-31; 2, 15). O texto de Gênesis nos convoca à mesma atitude contemplativa do próprio Criador: “E Deus olhou e exclamou: “Que bonito!” (cf. Gn 1 a 2).


 

Pendor para a vida solitária


O tema da procura de Deus está intimamente ligado à ideia da presença divina, da qual o monge deve sempre estar consciente e na qual precisa sempre tentar viver. Ele deve crer que Deus está presente em toda parte (RB19,1) e que tudo é perceptível “ao olhar da divindade” (RB7,13).

(imagem - esquerdap/direita: fundadores da Trapa do Novo Mundo Pe.Francisco, Irmão Cipriano, Pe. Jerônimo, Irmão Barnabé)


 

Fl 3,21

 Em nosso tempo a nossa fé está desfigurada pela incoerência e separação entre fé e vida. Ser testemunhas da transfiguração é aceitar contemplar a luz divina presente nas relações ecumênicas e caminho da unidade. É ver a glória de Deus presente na figura do Cristo que enfrenta os professores da Lei e os religiosos do templo, assim como os governadores do império de hoje. É passar de uma religião predominantemente institucional para uma fé profética e livre.

Atualmente, um desafio para a fé é não permitir que o nome de Jesus seja usado para legitimar a iniquidade. A transfiguração de Jesus mostra Jesus rodeado das figuras da tradição judaica.. É preciso vê-lo como se fosse um Moisés ou Elias trazendo a antiga aliança junto com Jesus na transfiguração para transfigurar nossa forma de viver a fé e o compromisso com a vida. É preciso sermos testemunhas de uma espiritualidade profética como transfiguração de um Cristianismo que sem isso afugenta a juventude mais crítica e mais independente e que não aceita mais crer porque a autoridade mandou. A transfiguração revela que só podemos atingir a intimidade de Deus no cuidado uns dos outros e da mãe Terra e no tratamento das chagas dolorosas que ferem a vida humana hoje. Como o apóstolo Paulo escreveu: “Ele transformará os nossos frágeis corpos mortais para serem semelhantes ao seu corpo glorioso” (Fl 3, 21).



compreender-se para viver a Kênosis

 No final da década de 1960 surgia a CIMBRA (Conferência de Intercâmbio Monástico do Brasil), espaço de encontro que une monges e monjas em fraternidade.

Naquele momento em que a própria Igreja procurava compreender-se a si mesma e à sua missão frente a novos desafios, também a vida monástica o procurou. Era necessário ainda elaborar uma organização interna para o grupo que surgia. De 1967 a 1974, realizaram-se encontros anuais, sediados nos Mosteiros do Morumbi (São Paulo) ou do Rio de Janeiro, sendo que a partir do terceiro destes encontros, escolhe-se um tema de reflexão. Eis alguns :
- A oração na vida do monge
- O monge face ao mundo
- Juventude e Formação Monástica
(jovens professos e noviços no claustro do Mosteiro do Rio. (Hábito branco monges da  Bahia )


sinodalidade

 É no Evangelho que o diálogo tem sua fonte. Diálogo é outro nome que se dá à caridade e comunhão que Cristo quer que haja entre nós. Para tanto nem é preciso recordar que a oração tem também no diálogo a sua origem.



 A vida monástica liberta e abre o gosto pela sabedoria de Deus gera o ideal fraterno, faz sentir irmãos, livres e homens novos, resgatados e salvos pelo Cristo. Esta é a esperança e a alegria! A Regra de São Bento, como ele mesmo o diz, opera uma profunda transformação em quem a põe em prática.



28.10.23

"Claritas eius iluminabit nos"


O monge é sinal de liberdade, um sinal de verdade, um sinal daquela verdade interior dos filhos de Deus com a qual Cristo veio enriquecer-nos. A “vida no deserto” deve ser um sinal de esperança para o homem esmagado e alienado pela insensatez e injustiça de uma sociedade com magníficas sofisticações tecnológicas atreladas a problemas cada vez mais angustiantes.
O monge no seu mosteiro mostra que se pode ser perfeitamente feliz sem depender de nenhum sucesso ou empresa mundanos, sem satisfazer nenhum ambição - ainda que sutil, eclesiástica ou mesmo apostólica – (assim foi a “vitae simplex” de Serra Clara) .


 

vivificar-se

Irmão Wendelino Reiser, do Mosteiro de Olinda (1º à esquerda)como parte da celebração do
seu jubileu de profissão, esteve em 1968 visitando o Mosteiro do Rio. Dom Lucas Guimarães (2º à esquerda) o levou, Ir. Geraldo e a mim, juntamente com o sr. Antônio português, mestre em cantaria do Mosteiro, a conhecer o "seio de Abrãao" em Teresópolis, sítio que havia sido doado ao Mosteiro do Rio por do Dª Niomar Bittencourt proprietária do jornal Correio da Manhã. Anos depois, já em Serra Clara, iria lembrar-me daquela natureza exuberante, face a semelhança entre ambas.
Na vida monástica monasterial tem-se absoluta convicção de que o Reino dos Céus está no meio de nós agora e deve-se estar aberto a esse reino agora, porque São Bento fazendo eco ao Evangelho ensina que o monge deve estar vivo (vivificado) no Espírito, por conseguinte vigilante e tornar-se plenamente vivo com a vida de Deus nele. Como monge (como cristão) não pode nunca estar satisfeito com menos.

 

contemplatio oratio meditatio


Serra Clara: vocação para a contemplação
A vocação para a contemplação não tem apenas uma dimensão.
A contemplação é uma eleição; uma escolha.
A contemplação é pura graça; não olha méritos. É resultado da oração.
A contemplação não pode deixar de colocar em absoluta intimidade com Aquele que chamou.


 

Somos todos caminhantes



Para o contemplativo, as tensões, os desafios, os estresses, não têm o poder de derrotar, uma vez que a vida monástica está alicerçada sobre a rocha que é Cristo, o Senhor. Este é o desafio que cada batizado tem de enfrentar para penetrar na realidade que é o Cristo, a Rocha sobre a qual podemos construir nossa vida com a segurança absoluta de que constinuará a derramar sobre nós o seu amor através de todos os nossos erros, das vacilações e mudanças de nosso coração e de nossa mente, porque Ele é o amor absoluto.
 


Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano, mártir do nazismo, dizia: “Deus está em mim para você e em você, para mim. Ele está em mim, mas eu o encontro melhor em você e, então, você o revela presente em mim, assim como eu o mostro presente e atuante em você”.

 

efeitos & causas

Olhamos extasiados a máquina capaz de calcular o lucro que dará a próxima colheita de café.             Olhamos com frieza apática a pequena...